O cozer das pedras, o roer dos ossos de Patrick Torres.

terça-feira, 15 de julho de 2025

Olá pockets, tudo bem?
Hoje, em uma campanha para a nossa parceira Astral Cultural, trouxemos um livro impactante chamado O cozer das pedras, o roer dos ossos, de autoria de Patrick Torres.

Com uma narrativa em terceira pessoa, linguagem formal e com regionalismos, somos apresentados a história de Mirto. Nas primeiras páginas acompanhamos o seu velório, que inicia com um “pai nosso”.

O livro é dividido em pequenos capítulos, onde aos poucos vamos voltando no tempo e conhecendo mais sobre aquele homem que agora está morto. Acompanhamos o personagem crescendo e se desenvolvendo a cada capítulo, com uma percepção de envelhecimento/amadurecimento e presenciando sua angústia, desde criança.

Eu não sei ao certo o que aconteceu comigo quando li esse livro, mas tenho certeza que já conheci uma dona Hermina, a mãe, e também o “demônio”, chamado Germão, marido dela e pai de Mirto.

Dona Hermina apanhava todos os dias do marido, mas era mulher de fé e vez ou outra achava ter sido esquecida por Deus. Mas um dia Mirto disse a ela que “Deus nem existe”. A mãe que sofre como uma condenada, mas que é incapaz de aceitar a não presença de Deus ou existência, deu uma surra em Mirto, por ter lhe dito isso.

Germão é representado pela figura do homem que bebe todos os dias, chega em casa espanca a esposa, a humilha, janta e dorme. O pior em pessoa, mas não conhecemos a origem de sua violência. Em apenas um trecho, o vimos parecer “angustiado em solidão”. Não que algo o justifique, mas no mínimo você tem esperança de que tudo acabe bem e que as coisas mudem.

A história me atravessou de tal forma que fiquei muito triste algumas vezes, seja pela familiaridade de alguns fatos, como o velório de um familiar numa rede, ou por saber como é a vida no interior, conhecer pessoas que sofrem tanto e não tem condições de reagir a situações de violência, como a de dona Hermina. Mas também fiquei curiosa para conhecer esse autor que escreve tão bem, com uma linguagem que eu não estava mais acostumada a “ouvir”, como o “tanger das galinhas”, a vassoura de palha, que ainda é presente na minha casa. Me surpreende porque o autor é também meu conterrâneo e muito jovem!

Achei interessante a metáfora do homem que vira lobisomem quando bebe, “descompreendido de si, visivelmente em outro mundo que não este, com os lábios úmidos de pinga e o desenho da boca torto pelo efeito da inconsciência alcoólica”. Quando ouvi sobre esse bicho a primeira vez, eu era criança e morava no interior, e hoje me pergunto: e se o lobisomem fosse apenas um bêbado que virou história fantástica?
Um dia Germão não volta para casa e dona Hermina, achando que o marido tinha outra na rua, pede que Mirto vá atrás do pai. Mas ele não retorna. Daí em diante, nossa angústia se dá com o percurso que ele faz na vida, com o desencontro com sua mãe, que mesmo com tanto sofrimento e pobreza, foi capaz de nos emocionar com o desejo de aprender a escrever, com medo de morrer e não dizer a Mirto o que sentia .
Terminei essa história e consegui entender o que era o cozer das pedras e o roer do ossos, foi a primeira coisa que me perguntei quando vi o título. Agora estou aqui, digerindo ainda tudo o que li...e com a curiosidade de conhecer mais esse autor!



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